— Mais para a direita... Não, não... Um pouco mais para a esquerda... Agora, para cima...
Enquanto o médico falava, a tela do aparelho de ultra-sonografia estampava a imagem de quatro fetos. Na 12ª semana de gestação, quatro corações pulsavam com vigor. Ao lado da máquina, deitada sobre uma maca, a mãe chorava. Há um ano a economista A.L.M., de 29 anos, tentava engravidar. Passou por meia dúzia de centros de reprodução assistida. Em vão. No último, indicaram-lhe injeções de gonadotrofina, o hormônio estimulante da ovulação. No primeiro mês, nada. No seguinte, quatro óvulos, a fecundação... e os quatro fetos.
— Isso! — anunciou o primeiro doutor. A agulha de aproximadamente 15 centímetros de comprimento e 1 milímetro de diâmetro chegara a seu destino: o coraçãozinho de um dos fetos. O segundo médico disparou a injeção. Cloreto de potássio. Parada cardíaca. Morte. A.L.M. virou o rosto. Soluçava. Com a mesma punção no abdome da mãe, a agulha alcançou o coração de outro bebê. Cloreto de potássio. Parada cardíaca. Morte.
Quarenta minutos e A.L.M. deixava a clínica. Não era mais a gestante de quadrigêmeos, mas apenas de gêmeos. Hoje, às vésperas de completar oito meses de gravidez, os bebês remanescentes estão prestes a nascer. "Prefiro não pensar sobre o que foi feito dos outros", diz a mãe. Medindo 6 centímetros cada um, depois de quatro semanas, foram absorvidos pelo organismo materno. "Tento imaginar que não existiram." A.L.M. tenta.
Agora mostraremos a outra face da moeda:
Às vésperas do Natal de 1998, num hospital de Boston, nos Estados Unidos, a nigeriana Nkem Chukwu, de 29 anos, deu à luz seis meninas e dois meninos — três meses antes do previsto para uma gestação normal. Sete dias depois, a pequena Odera, a menorzinha dos óctuplos, morreu vítima de insuficiência cardíaca e respiratória. Tinha o tamanho de um passarinho: 320 gramas, 24 centímetros. Foi uma gravidez dura. Como a economista paulistana, a nigeriana recebeu injeções de gonadotrofina. Mas, cristã fervorosa, recusou-se a abortar alguns dos fetos. "Fui abençoada por Deus", afirmou ela na época. A probabilidade de uma mulher ter oito bebês de uma só vez, sem auxílio de tratamento, é de uma em 21 trilhões. Ou seja, é virtualmente impossível.
"Não consegui fazer a redução. Hoje, olho para meus filhos e penso: quais deles teriam sido mortos?"
Teresa Lopes, 38 anos, mãe de Bárbara, Raquel, Bruno e Catarina, de 2 anos
Vídeo de uma redução assistida:
Quando se faz a inseminação artificial, vários óvulos de uma mulher são fecundados pelos espermatozóides. E para que a gravidez seja mais tranqüila algumas gestantes fazem a chamada “redução embrionária” (um eufemismo de aborto!). A.L.M. fez errado, deveria ter feito igual a Nkem? O aumento no número de gestações múltiplas coloca o dilema: abortar ou não alguns dos fetos?
Hoje não escreverei muito. Não estou aqui para formar opiniões, e sim para instigá-los!
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